segunda-feira, 8 de junho de 2015

O NÚMERO E A VIDA



O UNO
O número é a película invisível do Ser, enquanto que o corpo é a sua parte sensível. Todos os fenómenos naturais resultam de leis, e as leis manifestam-se através de proporções numéricas. Balzac dizia que “o movimento é um número que actua”. A linguagem dos números é uma estrutura mental universal que está em toda a parte e que pode ser vista sempre. O número é também sinónimo de numeroso ou pluralidade, porque a Unidade não é um número mas o Infinito que se pode combinar de forma ilimitada. A Unidade unicamente pode ser captada através da intuição porque escapa a qualquer registo mental.
A Unidade é a soma de todos os plurais e perdura na solidão absoluta num tempo sem tempo. As unidades materiais não o são eternamente, porque estão sujeitas às mudanças. No homem esta Unidade é representada pela sua Individualidade ou o Indivisível: a Advaitados Hindus.
Esta Unidade Suprema é o Motor Imóvel que desperta a Ideia do mundo, revelando-se através das múltiplas divisões ou subtracções de si mesma, transmitindo em cada parte a sua totalidade. Heraclito dizia que “da multiplicidade das coisas provém o Uno, e do Uno a multiplicidade”.
No Bhagavad-Gíta, Krishna explica ao seu discípulo Arjuna o seguinte “Todo o universo é pleno de Mim, o Imanifestado, todos os seres dependem de Mim e Eu não dependo deles” (B-G PJ.161). Quando a Unidade se manifesta no Absoluto, Ela é representada pelo Ponto, símbolo da Unidade Primordial.

A DÍADE
O 2 é o princípio da divisão e da primeira diferenciação: Espírito e Matéria, o Céu e a Terra, Uranus e Gea, Purusha e Prakriti, Pai e Mãe Cósmicos, do dual vem a origem das palavras: divergência, dualidade, divisão, diversidade.
Os alquimistas representavam esta dupla polaridade cósmica pelo Rei e a Rainha, (o sol e a lua para a nossa dimensão), Aristóteles denominava-as de Substância e Forma.
O círculo é o reflexo do ponto, ao expandir produz a linha que une o Ser do Não-ser ou a grande ilusão, citando a Doutrina Secreta, no capitulo III do volume II, no tema da Ilusão universal, H.P.Blavatsky disse: “Desde o ponto de vista da metafísica mais elevada, todo o Universo, incluso os Deuses, são uma ilusão. Mas a ilusão daqueles que são em si mesmo uma ilusão, difere em cada plano de consciência”.
A dualidade é contida na Unidade, atrai e repele-se mutuamente, o ternário é o número que põe em acção a possibilidade de tornar fecunda esta Dualidade.
O Ternário põe em activação o processo de organização, sendo a Tríade que permite a reacção dos opostos e a possibilidade de interagir na busca da harmonia. Ela combina o activo e o passivo e como dizia Balzac “Ele é a fórmula dos mundos criados”.

O TERNÁRIO
O Logos revestiu-se de 3 aspectos para produzir e desenvolver a ordem, a Lei ou o Dharmam. Na China, Lao Tsé no Tao Te King ensina que o Tao é um pela sua natureza e que o primeiro gerou o segundo e os dois geram o terceiro, e que os três fizeram todas as coisas.
Na velha religião Celta, a Trindade é composta de Teutatés (a força), Esus (a Luz) e Gwyon (o Espírito); para os Caldeus encontramos Oannés-Bin-Bel; no Egipto Osiris-Ísis-Horus; na Índia Védica. Agni-Indra-Soma; na Trimurti: Brahma-Shiva-Vishnu, e os três aspectos de Brahma: Sat-Chit- Ananda, ou Espírito, vida e existência; na Pérsia: Ormuzd-Ahriman e Mithra; na religião escandinava: Odin-Frega e Thor; no Cristianismo temos a Unidade do Pai, a Igualdade do Filho e ambos na harmonia do Espírito Santo; na Cabala é Sephirah Hachmah o pai, Binah o Filho e Kether a Providência; nas religiões naturalistas temos o Sol-Lua-Terra; nos ensinamentos teosóficos o Primeiro Princípio é impessoal e não manifestado, Dele provém o segundo que contem as duas polaridades Pai e Mãe dos Mundos, e o terceiro princípio é a Ideação Cósmica, Mahat a Alma do Mundo.
O Terceiro é o Ângulo que permite a união dos opostos. O Ângulo transforma-se no triângulo, o Primogénito, ou o número mais velho. Visto de perfil o Triângulo contém o Cone, que do ponto de vista simbólico resumo o ponto, a linha, o ângulo, a superfície, e o volume, podendo assim produzir o circulo, a elipse, a parábola e a hipérbole.
No corpo humano temos a constituição ternária:
A cabeça (frontal-nasal-bucal), o tronco e braços (tórax-abdomen-bacia) e pernas (coxas-pernas-pés) .
As analogias do Ternário são infinitas e podem ser resumidas pelo AUM, as 3 sílabas sagradas da Índia ou a voz de Deus, o Verbo que ressoa nos confins do Universo.

O QUATERNÁRIO
O Número 4 é o símbolo da concretização, é o limite da expansão do mundo, é a forma que contém todo o potencial da vida evolutiva e que está representada pelos 4 elementos: Fogo, Ar, Água e Terra, estes elementos representam o processo involutivo quando se traduz pela materialização em estruturas densas. O Logos aprisionado na matéria vai actuando nela até esgotar todas as modalidades de retorno à Essência Primeira.
É o tempo que detém e rege todos os períodos de mudanças até absorver o espaço, alimentando-se da sua energia de vida e transmutando-a em plena consciência. Os quatro livros sagrados da Índia, os Vedas, resumem toda a sabedoria da vida, do mesmo modo, as Quatro Nobres Verdades de Buda são as quatros etapas para alcançar a Libertação.
Encontramos a cruz como o símbolo fundamental do número 4, é o quadrado da manifestação com as suas 4 direcções, as 4 Eras, as 4 estações.

O QUINÁRIO

O 5 é o ponto de transição, é o Spiritus dos alquimistas, como símbolo da encarnação do Verbo Divino na matéria. É aquele que permite a reorientação da vida no sentido ascendente, Ele é o sacrifício do Logos que actua no seio do mundo dividido e plural, é o centro unificador dos quatro braços da cruz, a quinta-essência, o fogo mental, o vértice da pirâmide, a estrela de cinco pontas símbolo de Vénus.
A palavra Jen na China significa: Homem e tem o ideograma do pentagrama. Para muitos povos da antiguidade o número 5 era utilizado como medida de tempo, os 5 anos de retorno dos lustros e das grande dionisíacas em Roma, do mesmo modo na Grécia realizava-se com a mesma periodicidade as panathenéas. Para a filosofia védica os 5 modos de contacto com a realidade material são os 5 sentidos e os 5 conhecedores do Yajur Veda. Estes constituem também as fontes do erro e da involução, os responsáveis pelas 5 fontes de sofrimento: Avidya, a ignorância; Asmita, o egoísmo; Raga, o desejo; Dvesha, o ódio e Abi-Nivesha, o apego à vida. O número 5 é também o número da saúde ou Hygia, a deusa do equilíbrio entre o corpo e a mente. Na china são concebidos 5 elementos: terra, madeira, fogo, metal, água, no Egipto antigo é o símbolo da pirâmide, os Acusmáticos pitagóricos tinham 5 anos de preparação silenciosa antes de ter acesso ao ensino da sabedoria superior dos números.
O 5 é a passagem e a porta para o mundo superior, é a Inteligência que abra o caminho para o Verdadeiro.

O SENÁRIO
O 6 é o início do caminho ascendente, pois os quatro primeiros números são descendentes e o quinto é o canal para a ascensão. O 6 é um número par (passivo), é o espelho que reflecte os dois mundos, Céu e a Terra, o Alto e o Baixo. É o número da beleza e da obra perfeita quando existe harmonia entre o Criador e a sua criação. O 6 é também o número do destino e do karma, a justa relação entre o pensamento e o acto. Também é o número da morte como processo de reajustamento para alcançar a Justiça Divina.
A morte permite que a Alma se purifique através de numerosos nascimentos, é a prova do serviço liberto de todo os vestígios de egoísmo. “Tu separarás a Terra do Fogo, o subtil do denso, docemente e com grande industria.” (Estrofe 6 da “Tábua de Esmeralda”). Na obra mística do Tibete, chamada “A Voz do Silêncio”, podemos ler os seguintes versos: “ Pois a mente é como um espelho; cobre-se de pó enquanto reflecte. Ela necessita das suaves brisas da Sabedoria da Alma para limpar o pó das nossas ilusões. Procura, Ó Principiante, fundir a tua mente e Alma.” (pg 91 Ed. Portuguesa). Também no Budismo vamos encontrar as 6 Paramitas que são: 1 - Paciência (Shanti), 2 - Caridade (Dâna), 3 - Energia (Virya), 4 - Sabedoria (Shila), 5 – Contemplação (Dyana) , 6 - Pureza (Vairagya). Na Índia o duplo Ternário cósmico é representadopelo aspecto Shakti da Trimurti Divina: Brahma-Saravasti, Shiva-Parvati, Visnhu-Lakshmi.
O Desenho do Hexagrama ou Selo de Salomão é formado por dois triângulos equiláteras entrelaçados de cor branca e negra ou então azul e vermelho, as duas cores extremas do espectro da luz. O 6 é o símbolo da justiça que reajusta os desequilíbrios do karma, é a submissa obediência ao Eu Superior, e a pureza da nossa conquista interior.

O SEPTENÁRIO
É o número chave da Harmonia e da obra concluída, é a síntese do caminho evolutivo. É o ciclo do tempo que fechou o anel da serpente Ouroboros. “O tempo move-se sobre 7 rodas, ele tem 7 nervos” (Atharva-Veda). Na Índia vamos encontrar os ciclos septenários tais como: as 7 Rondas, os 7 Globos, as 7 raças, as 7 sub-raças, os 7 princípios do homem etc. O número 7 é o fecho do círculo da evolução que inclui os 7 planos das emanações, o septenário é a base da constituição do homem tanto na simbologia Hindu, Egípcia, Chinesa, Grega, etc. Platão falava da Alma séptupla e no hermetismo de todos os tempos o septenário é a chave que abre as portas à libertação.
No cristianismo encontramos os 7 sacramentos da igreja, com as 7 virtudes e pecados capitais. No Budismo as quatro iniciações possuíam 7 degraus de perfeição ou 7 Portais. Podemos também encontrar os 7 dias da criação, os 7 raios do sol. No Egipto encontramos os 7 pedaços dispersos do corpo de Osíris como símbolo da Unidade da consciência fragmentada no mundo da matéria.
Cada número corresponde às etapas da nossa evolução, cada número é um período de tempo das nossas vidas, quanto mais nos dispersamos na multiplicidade numérica mais perdemos a ligação que nos une à unidade do Ser, só quando a gota voltar ao Oceano é que deixaremos de buscar o outro que estava em nós.



Françoise Terseur

 http://www.nova-acropole.pt/a_numero_vida.html



Bibliografia:
“Le Symbolisme dês Nombres”, de Docteur R. Allendy, Éditions Traditionnelles, 1948
“Doutrina Secreta – Vol. II – Simbolismo Arcaico e Universal”, de H.P.Blavastsy, Editora Pensamento.
“A Voz do Silêncio”, de H.P.Blavatsky, Edições Nova Acrópole, 2005

domingo, 24 de maio de 2015

O Simbolismo Hermético do Cristograma


— Muitos dos símbolos cristãos — disse — são mais antigos. Alguns muito mais antigos do que pensam os seus adoradores, como por exemplo o da Cruz, que em todas as civilizações representou o Espírito crucificado na matéria, condenado a viver nela, dando-lhe vida e nela desenvolvendo, como num campo experimental, toda a sua potencialidade. A Cruz, nas suas diferentes modalidades – como tu já sabes pelo estudo dos arquivos egípcios – deve ser tão antiga como o homem. A cruz em movimento, ou bendita para a antiga Religião da Sabedoria, é património de todas as nações e encontra-se em petróglifos de há dezenas de milhares de anos: nos templos egípcios mais antigos, nos seus muros, na maior parte dos mosaicos romanos, nas cerâmicas cretenses, etc. etc., indicando a presença de Deus.

É que é o símbolo da Vontade Divina em Acção movendo a roda do tempo: da criação ou da destruição das formas, segundo gire para a direita ou para a esquerda. Os povos germânicos também se referem a ela como o martelo de Thor, o deus da Tempestade. A cruz cristã é um cubo aberto num plano de duas dimensões e desta maneira era gravada no peito dos Iniciados egípcios há milhares de anos. Em X, ao modo grego, é símbolo da Alma do Mundo e é referida pelo Mestre da Academia no seu Timeu: é a Luz Espiritual que se converte na Luz do Mundo, estilização, portanto, da dupla pirâmide, a primeira invertida no céu gerando a segunda. E não é casualidade que se tenha convertido na forma dos relógios de areia ou de água…
"— O X com o P é uma estilização do Machado de Duplo Gume,
antiquíssimo símbolo do Poder que governa a natureza e as sociedades humanas"
— Há outro — disse Hipátia — que era um símbolo sacerdotal muito antigo de Deus na Natureza, ou seja, outra vez o Logos Encarnado, origem, princípio e fim de tudo quanto existe do qual se aproveitaram indevidamente os cristãos e agora dizem que é o monograma de Cristo como «ungido». Não o Supremo Deus que irrompe no tempo, na História, transformando-a e dividindo-a num antes absoluto de ignorância e num depois também absoluto de salvação – o que é infantil pensar – mas sim o Fogo Obscuro cuja chama é o tempo que tudo consome e a sua luz a vida de tudo o que vive. Oh, como pode a infinitude no antes, no agora e no depois irromper num determinado tempo? Esta é uma aberração lógica. E acreditar nisso é uma loucura que está a justificar inúmeros crimes e infâmias.
— Referes-te ao Cristograma, não Hipátia? — Perguntou o seu pai. — É, junto com os peixes e o bom pastor, uma das representações mais sagradas da presença de Cristo. E é certo, se pensamos em Cristo como a Luz e o Poder que sustêm o universo, mesmo antes do mundo ter nascido. Evidentemente não é um símbolo exclusivo do seu Salvador e era utilizado pelos sacerdotes romanos do Deus Jano-Quirino, inclusive em práticas mágicas e de profecia. É um dos símbolos demasiado sagrados para saírem dos Templos e, ainda assim, no final acabou por sair. Ao vulgarizar-se, os cristãos tergiversaram a sua origem e apropriaram-se dele, sabendo a devoção que suscita e a importância mágica que tem. Segundo o conhecido princípio «se destróis ou fazes desaparecer o original, a cópia é o novo original». Eles dizem que o X e o P (Ró grego) significam CRistos, o «ungido»; mas o que estas letras geram é, na verdade, KRatos, que significa «poder, império, soberania» pois é o símbolo do Espírito que governa a Natureza. Na maior parte dos Cristogramas aparece inclusive o Alfa (A) e o Ómega (W), como símbolo deste Logos Platónico que é Princípio e Fim de tudo, e que é nomeado no Apocalipse de São João.
Forma, assim, o anagrama sagrado ARKO que significa «ser o primeiro, guiar, mandar, ser causa», daí o Arkhé ou a Causa Primeira dos Filósofos Pré-socráticos. Assim era representado na religião mistérica romana, agora quase em ruínas, o Deus JANUS-QUIRINO, a quem o poeta Ovídio chama «O Primeiro-Aquele-que-Vigiao- Amplo-Universo».
— O X com o P é uma estilização do Machado de Duplo Gume — continuou a explicar Theon — antiquíssimo símbolo do Poder que governa a natureza e as sociedades humanas, símbolo dos antigos reis cretenses e até micénicos. Além disso forma os eixos do quadrado base de uma pirâmide e a sua altura, o P, evoca o Neter ou hieróglifo de Deus na língua egípcia. Os gimnosofistas utilizavam também este símbolo para representar o seu Deus do Fogo, Agni, no qual o X são os dois lenhos e o P o Fogo que se eleva até às Estrelas. Este Deus Agni é o Fogo que vivifica a Natureza, o Espírito Primordial que nela se agita, prisioneiro. O Cristograma também geometriza a Fénix surgindo renovada das suas cinzas, símbolo da alma vitoriosa que atravessa os portais da vida e da morte.
"O Cristograma é portanto o símbolo do Logos ou Palavra ou Razão que dá forma e harmoniza a natureza"
Theon prosseguiu:
— Se o examinarmos na chave numérica, o X é o número 600 e o P o 100 e assim representa o Seis, a Natureza e o Duplo Triângulo (Fogo e Água), harmonizada e movida desde o seu eixo, a Unidade. Como o A é a unidade e o W é o número 800, se lemos este símbolo chamado Monograma de Cristo mas que na realidade é um Tetragrama, pois são quatro letras, obtemos: AXRW (que se lê Acro) que é igual a 1618, ou seja, a Divina Proporção. É o número que rege toda a Natureza, o grande segredo dos antigos Iniciados e que agora foi vulgarizado. Nas civilizações com Escolas de Mistérios, a arte baseia-se sempre neste Número. É a Proporção de Ouro. O Cristograma é portanto o símbolo do Logos ou Palavra ou Razão que dá forma e harmoniza a natureza, o crescimento dos cristais nas suas pétreas matrizes e das estrelas no seio do espaço. A Luz Divina do Logos, representada pelo X, é acompanhada pelo P que é o bastão de mando, velho símbolo dos Reis e Iniciados, símbolo de «O Bom Pastor»; pelo A que desenha um compasso, portanto símbolo do Arquitecto; e pelo W que, invertido, forma os arcos de uma ponte, e portanto, o Pontífice (aquele que com a sua sabedoria e ritual estabelece uma Ponte entre os Deuses e os Homens, entre o Céu e a Terra). É, portanto, a Luz do Logos acompanhada pelo seu triplo poder: Vontade (Governo, que estabelece a Lei), Sabedoria (Religião do Amor) e Inteligência (que traça as formas do Mundo).
— Um dos meus discípulos — disse Hipátia — nasceu na cidade de Lucus Augusti, na província romana da Galécia. Os seus pais, e ele próprio na adolescência, foram discípulos do bispo Prisciliano até que este sábio, uma das almas mais puras e inspiradas do nosso século, foi decapitado e os seus seguidores cristãos brutalmente perseguidos e dizimados como hereges pelos cristãos triunfadores em Niceia. O seu pai morreu defendendo aquilo em que acreditava mas a mãe, que tinha família em Alexandria, veio com ele há três anos para esta cidade. Tanto ele como a mãe são de uma pureza angelical e, ao mesmo tempo, de uma alegria de viver, sincera e generosa, que é muito difícil de ver nestes tempos. Ela chegou a participar como sacerdotisa nos rituais que efectuavam juntos, homens e mulheres, e a dirigir os cânticos sagrados. Depois de assistir a vários dos meus discursos confiou-me o seu filho como o mais precioso tesouro. A Sabedoria e instrução esotérica de Prisciliano devia ser muito elevada pois ensinava-lhes, segundo ela, que os Patriarcas da Bíblia são, na realidade, partes do céu e que representam os signos do Zodíaco, cuja influência cristaliza, dizia, nas diferentes partes do corpo. Para mim — clarificou a filósofa — é indubitável que Prisciliano, pelo que narra esta mulher, era Iniciado nos Mistérios; um místico destinado a enxertar no novo tronco da nova religião um ramo das Escolas de Mistérios e iluminar com a sua sabedoria as novas crenças.
— Pois bem, o seu filho — continuou a relatar Hipátia — comentou numa das aulas que os seus sacerdotes faziam um género de consulta oracular na qual um Cristograma em pedra, disposto sobre um trípode, servia de mesa ritual. O historiador Ammiano Marcelino menciona estas mesas ainda que eu nunca as tenha visto. A mesa ritual que descreve o historiador estava composta de uma liga de metais, possivelmente uma liga alquímica de electrum – prata e ouro – ou, inclusive, a mais mágica de todas, o electrum que combina os sete metais alquímicos; e no seu bordo estavam gravadas as letras do alfabeto. Ammiano diz que o trípode era feito com troncos de louro e que a consulta era feita numa câmara saturada de perfumes. Sobre a mesa ou bandeja circular colocava-se um anel que o sacerdote, vestido de puro linho branco, fazia mover por meio de uma rama de verbena que tinha na mão. Quando o anel deixava de oscilar assinalava uma das letras da bandeja que respondia assim, letra a letra, escrevendo uma mensagem ou, quiçá, usando o valor simbólico ou numérico dessas letras. Em nenhum momento Ammiano refere qual era o desenho mágico da mesa, mas o meu discípulo descreve o mesmo ritual numa mesa com o símbolo do Cristograma, os diâmetros do X num ângulo recto dentro e um círculo. Nesta faixa circular incluía todas as letras do alfabeto latino, dispostas de forma a ler-se, sem separação entre as palavras:
X AURUM VILE TIBI EST ARCENTI PONDERA CEDANT
O ouro é para ti vil e a prata carece de peso
H (Uma Folha de Hera)
PLUS EST QUOD PROPRIA FELICITA NITES
Mais (importante) é que a tua própria felicidade brilhe
"Uma alusão à Crucificação do Logos, isto é, a Árvore da Vida."
— Ensinamento vital se queremos manter a sensatez e não ser escravo das paixões dos outros — disse Theon.
— Mas ainda voltando ao simbolismo do Cristograma, o que poucos comentam é que sendo representação do Logos Espermático, isto é, da Razão que contém as sementes de vida em todos os reinos – isto simbolizado no valor do Número de Ouro – os Cristogramas mais antigos tinham as hastes da letra X muito abertas. O ângulo que formam as hastes de alguns destes mais antigos é 23 graus, que é o ângulo que formam o horizonte com a faixa zodiacal, devido ao ângulo de 23 graus que forma o eixo da Terra com o seu movimento orbital em torno do Sol, tal como descreve Aristarco de Samos e nós aprendemos nos Mistérios. Recordemos o que diz Platão no Timeu desta figura, esta cruz que é a chave do Cristograma. Depois de explicar como fez a Alma do Mundo com uma série aritmética e outra geométrica entrelaçadas, formando intervalos musicais, diz: «Esta nova composição foi dividida por Deus em duas cortando-a no sentido da longitude, cruzou estas duas partes pela metade de modo que formaram um X, curvou-as depois em círculo, uniu as duas extremidades de cada uma entre si e com as da outra no pólo oposto da intersecção e lhes aplicou um movimento de rotação uniforme, mas sem deslocação. Fez de maneira que um destes círculos fosse interno e o outro externo. Ao movimento do círculo exterior chamou-lhe movimento da natureza do Mesmo e ao do círculo exterior movimento da natureza do Outro». O próprio Jerónimo, uma das máximas autoridades eclesiásticas, diz nos seus livros que a Cruz do Cristianismo é a mesma que a que Platão descreve nesta passagem do Timeu, com o mesmo significado, e como uma alusão à Crucificação do Logos, isto é, a Árvore da Vida.
— Claro — disse Hipátia — um é o movimento da Terra e o seu horizonte e outro o movimento da faixa zodiacal: um gera o dia e o outro o ano. Ainda que esta explicação tenha significados mais ocultos relacionados com a Alma do Mundo e o seu duplo movimento. O X é a relação do Uno ou o Mesmo com o Outro; a relação do homem com a sua circunstância; do Espírito com a Matéria; do Pensamento com o Sentimento. É o Deus que governa o Mundo quem imprime um movimento perpétuo a todos os seres, desde o nascimento até à morte, continuamente, e tanto nas sendas abertas da vida como nas ocultas da sabedoria…

José Carlos Fernández
Director Nacional da Nova Acrópole
Excerto de "Viagem Iniciática de Hipátia: na demanda da alma dos números" (Edições Nova Acrópole, 2010)
http://www.nova-acropole.pt/a_simbolismo_hermetico_cristograma.html

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Helena Petrovna Blavatsky e a redescoberta da «Cabala Grega» e das suas Leis: A chave «lexarítmica» de interpretação



« ... todas as cosmogonias sem excepção baseiam-se, entrelaçam-se e intimamente se relacionam com números e figuras geométricas.
Um Iniciado dirá que estas figuras e símbolos dão valores numéricos, baseados nos valores integrais do círculo, chamado pelos alquimistas ‘A secreta morada da sempre invisível Divindade’... Relacionando as ideias com os números, podemos operar com as ideias das mesma maneira do que com os números, estabelecendo, assim, a Matemática da verdade.»


Introdução
Durante muitos séculos estes conhecimentos sobre a existência de uma chave «lexarítmica» de interpretação na tradição e língua da antiga Grécia, ou seja, de uma verdadeira Ciência «Cabalística» grega, esteve esquecido ou oculta aos olhos da cultura europeia, juntamente com tantas outras conquistas civilizacionais dos antigos gregos, enquanto, por outro lado, o velho continente se orgulhava de ser o herdeiro directo da Grécia.
Desde a queda do Império Romano do Ocidente com a invasão das nações bárbaras até à época do Renascimento Europeu, a antiga cultura grega e juntamente com ela as Ciências, as Artes e as Letras que constituíam a principal conquista da civilização ocidental, foram cobertas pelos véus do esquecimento. Pouco a pouco e com o florescimento dos estudos clássicos nos países mais adiantados do Renascimento, redescobrem-se realidades como a esfericidade da Terra, o sistema heliocêntrico, as leis da Óptica, da Anatomia, da Química, da Biologia, a perspectiva na Pintura, o movimento dinâmico na Escultura e na Arquitectura e tantas outras descobertas.
Hoje somos conscientes de que o Partenon da Acrópole de Atenas constitui, só para citar um exemplo, um maravilhoso livro de pedra de conhecimentos matemáticos, de óptica e de perspectiva, de Geometria e de Geodesia, de Astronomia. Sabemos que os Templos e Centros de Culto mais importantes dos gregos, como também as velhas Civilizações Iniciáticas em geral, estavam situados seguindo determinados sistemas geodésicos e geométricos de grande exactidão e conteúdo simbólico, com distâncias entre eles que configuravam figuras geométricas que indicavam conhecimentos sobre os números p, f e e (dos logaritmos neperianos), desenhando sobre a terra as vias das constelações e dos planetas, assinalando os Centros energéticos telúricos onde fluíam como fontes de Energias invisíveis (hoje conhecidas como do tipo electromagnético e telúrico). Esta verdadeira mas esquecida Ciência «holística» (global, total), capaz de combinar todas as possíveis facetas das diversas Ciências, Artes e Letras dentro de uma única Cosmovisão, harmónica, coerente e global num só monumento, templo ou conjunto escultórico ou pictórico, em perfeita simbiose com o meio ecológico e com o homem, é algo que ainda hoje em dia, em plena época de alto desenvolvimento tecnológico, nos surpreende profundamente e nos mostra um grande caudal de conhecimento se soubermos «ler» para além dos fenómenos de superfície. Inclusive, o facto de ser relativamente recente a época em que a nossa cultura esteve em posição de estimar, analisar e reconhecer todos aqueles conhecimentos, acrescenta ainda mais encanto e mistério à investigação.
Investigadores em todo o mundo civilizado, quer em tentativas coordenadas quer individualmente, estão a procurar decifrar as chaves e reestruturar aquela velha e perdida Sabedoria. Seria muito longo enumerar aqui toda a bibliografia científica a este respeito, em diversas línguas, que se tem ocupado e se ocupa destes estudos, e, por outro lado, se afasta, na sua grande diversidade de aspectos do tema concreto deste estudo.
Já desde a época da Baixa Idade Média e do Renascimento, com a revitalização do interesse pelos estudos clássicos e humanísticos, os filósofos, escritores e intelectuais da época, em geral, começam a vislumbrar a tremenda profundidade e importância da Cultura greco-romana. Pouco a pouco, ao entrar em contacto com ela, chegaram a explicar conhecimentos e ideias que a sua própria época contemporânea não era capaz de imaginar que pudesse existir. Teriam de passar séculos, quase até meados do século XX, para que tudo isso fosse realmente compreendido, assimilado e aceite, e não totalmente, uma vez que foi em grande parte debilitado – no entanto, ainda sobrevive – o tremendo sistema de pressão obscurantista da Inquisição eclesiástica, baseada no fanatismo e dogmatismo que produz cada sistema que se crê «eleito e protegido» por Deus, em vez da abertura e liberdade de pensamento, elementos indispensáveis para cada criação e progresso científico e na investigação.
Entre aqueles pioneiros da «redescoberta» do Saber antigo podemos distinguir Kepler, Pico de la Mirándola, Dante e Leonardo, Newton e Goethe, mas principalmente Giordano Bruno, misteriosa e inquietante personalidade do século XVI, que apenas na nossa última década do século XX começa a ser estudado e compreendido na profundidade que merece, reabilitando-se o seu pensamento e obra extraordinários para a sua época e ainda vigente para nós. Foi, no entanto, queimado na fogueira da Inquisição católica, em Roma, no ano 1600, testemunho e mártir da liberdade de pensamento e da sua busca da velha Sabedoria tradicional.
Contudo, nenhum destes grandes pioneiros da Arte e da Ciência, recriadores e defensores, cada um na sua área, dos conhecimentos esquecidos do Mundo Clássico antigo, conseguiu apresentar uma clara panorâmica e uma ideia global dos segredos culturais dos antigos tanto como Helena Petrovna Blavatsky, a grande investigadora russa, nascida em 1831. A sua obra de investigação, que surge profundamente nas raízes tradicionais da Humanidade, através dos estudos comparados de todas as civilizações, dos seus panteões e símbolos, das suas tradições e conhecimentos, constitui uma obra incomparável e até hoje ainda não ultrapassada no seu conjunto.
Incompreendida pelos seus contemporâneos, perseguida pelo pensamento «oficial» científico e eclesiástico, como sucede a todos os pioneiros em todas as épocas, apenas hoje estamos em posição de estimar e avaliar correctamente a sua façanha espiritual e cultural e o seu legado na investigação, pleno de ideias férteis, audazes e criativas, pleno de inspiração e de novas hipóteses, muitas delas já reconhecidas hoje como verdadeiras. Muitas décadas depois, nomes famosos e reconhecidos em todo o mundo científico, como Mircea Eliade, Joseph Campbell ou F. Kapra, entre muitos, em diversas áreas das Ciências, das Artes e das Letras, confirmam com as suas investigações grande parte de tudo aquilo que H. P. B. já tinha dito ou já tinha insinuado quase um século antes. E a sua memória e recordação, pouco a pouco mas com segurança, vai-se reabilitando com a sua obra.
Entre os velhos conhecimentos que ela desenterrou do pó do esquecimento, dos quais alguma recordação parece que se manteve até à sua época em certos mosteiros do Oriente, onde se diz ter sido Iniciada, vamos destacar aquele que se refere à existência de um código secreto de Ciência «Cabalística» em Língua Grega antiga. Embora já desde a época medieval os eruditos soubessem que as letras do alfabeto grego correspondiam-se com números, ou seja, a representação dos números levava-se a efeito com letras, Blavatsky é a primeira a referir a existência de um código com uma chave de interrelações e de transformações das palavras em números de importância gnoseológica e simbólica, e a inversa, tal como já era conhecido que existia na tradição hebraica cabalística e mais concretamente na área ou ramo da chamada «Gematria». Segundo a investigadora, aquela era uma velha Ciência estabelecida em todas as Línguas antigas de raízes culturais iniciáticas, a qual tinha ficado como um resto de uma língua muitíssimo mais antiga, de âmbito universal. Com o passar dos milénios e com a ramificação dos troncos linguísticos, esta Ciência secreta que permitia «ler» um texto ou cifra em vários sentidos ou chaves de interpretação (Hermenêutica) e, ao mesmo tempo, «resguardar» de olhos profanos certas informações secretas, passou a diversos povos, e, depois, parece que foi esquecida à medida que as Línguas se desenvolveram mentalmente e ao mesmo tempo perdiam o seu oculto sentido sagrado e mítico-simbólico. Na Cabala hebraica este conhecimento codificado com as suas chaves manteve-se, mas noutras muitas línguas foi esquecido, de modo que o mundo posterior chegou a desconhecer a sua própria existência. H. P. B. insistiu em que sempre existira e que continuava a existir. Simplesmente tinha de investigar com uma certa intuição.
Muitos eruditos em Línguas mortas clássicas não lhe deram muito crédito. Inclusive, com um certo espírito anti-científico, chegaram a zombar das suas arriscadas mas bem intencionadas hipóteses. Hoje, no entanto, sabemos, pelo menos no que se refere ao grego antigo, que tinha razão e muito mais profundidade daquela que então se atreveu a insinuar apesar de não temer nunca as zombarias oficiais.
Ao longo deste trabalho tentaremos dar ao leitor uma ideia básica de tudo isto. Se se fizesse, estamos em crer, um trabalho similar no que concerne a outras línguas como o sânscrito, o persa, o celta ogâmico, etc., uma vez que nas Línguas latinas também já foi descoberto, estudado e aceite, encontraríamos grandes surpresas nesta via de investigação.
Há já algumas décadas, e sobretudo nos anos 70, diversos investigadores com grande intuição, entre os quais gostaríamos de destacar o dr. Theofilo Manias, começaram a estudar as correspondências de palavras e números na Língua grega, pondo a descoberto um completo Sistema de codificação que tinha permanecido oculto e insuspeito até então, com a quase única excepção de Blavatsky, um século antes. Este sistema em chave foi chamado «lexarítmico», como já explicámos anteriormente. Assim, continuaremos com esta mesma denominação já estabelecida no mundo da investigação e chamaremos «Chave Lexarítmica» de interpretação àquela que permite a revisão interna ou esotérica, mais profunda, dos textos sagrados e filosóficos na Grécia segundo este sistema.

Princípios do sistema lexarítmico de interpretação
 «... Mais fatigante trabalho requer ainda o simbolismo de Pitágoras, cuja copiosa variedade exigiria anos de estudo para compreender tão somente a chave geral das suas abstrusas doutrinas. As principais figuras do simbolismo são: o quadrado (Tetraktys), o triângulo equilátero, o ponto no círculo, o cubo, o triplo triângulo e, finalmente, a quadragésima sétima proposição de Euclides, inventada pelo próprio Pitágoras que, para além destas excepções e contra o que se pensa, não foi o autor dos outros símbolos».
O sistema lexarítmico de interpretação dos antigos textos criptocodificados está baseado, como afirmámos anteriormente, na correspondência e identificação dos números com as letras do alfabeto grego. Assim, cada palavra contém ou significa semioticamente um número e vice-versa, conduzindo-nos tudo isso a informações e relações gnoseológicas que não são diáfana ou compreensíveis na simples leitura da letra «morta» do texto. Este sistema tem, assim, uma extraordinária importância na Ciência Hermenêutica, se não isoladamente, em combinação com outros sistemas interpretativos, como o filosófico, o mítico-simbólico, o geográfico, o astronómico, o filológico, o semiótico, etc. Por outro lado, uma vez que é sabido que nenhum sistema pode por si só fundamentar uma obra hermenêutica realmente efectiva. Contudo, o sistema lexarítmico é de enorme importância e pode oferecer uma nova luz sobre muitos aspectos se se aprender a manejar correctamente, como recomendava Blavatsky.
As correspondências entre letras e números em grego antigo, que se manteve até hoje na Grécia moderna, sobretudo no que se refere aos documentos oficiais, ainda que desde há século se use normalmente o símbolo arábico nos números para uso diário, são as seguintes:
Devemos esclarecer que certas letras antigas, que correspondiam aos números 90 e 900 ( , ) deixaram de se usar desde épocas remotas, antes, inclusive, da época homérica.
Na sua obra Teologizações da Aritmética, o grande filósofo neoplatónico Jâmblico refere certos exemplos da velha tradição lexarítmica, como por exemplo o facto de se somarem as letras correspondentes à palavra «Monas», que significa Unidade, e se calcularem os seus números, teremos o valor 361, que é o dos do círculo zodiacal. Realmente, se somarmos (M= 40) + (O= 70) + (N= 50) + (A= 1) + (S= 200) = 361. também nos diz que o lexaritmo da palavra «kosmos» (mundo) é de 600, no capítulo «sobre a Héxada», 3720. No capítulo «sobre a Década» 64-15,20, diz-nos que esta dá nascimento ao número 55, que contém «maravilhosas belezas» e que o lexaritmo da palavra «Em» (Uno) é também 55, para além da soma dos dez primeiros números nos dá 55, indicando-nos ocultamente que a Década (Tetraktis) é na sua essência Uno.
O próprio Jâmblico refere que o uso da matemática das palavras ou lexaritmos era muito vulgar entre os pitagóricos por razões e usos simbólicos e mágicos. Estes, no entanto, eram simplesmente os continuadores de uma tradição muito mais antiga que passava pelos Mistérios Órficos. Quem foram, pois, aqueles antigos sábios que tinham fundamentado uma tão exacta estrutura em chave dentro da Língua e da Numerologia? Não o sabemos, mas a verdade é que constituiu, ao mesmo tempo, uma das mais gloriosas, difíceis e geniais façanhas do espírito humano que hoje, e com dificuldade, poderíamos tentar imitar com a utilização dos modernos computadores electrónicos.
Desde Homero, com as primeiras obras literárias escritas conhecidas em Língua grega, até ao último grande filósofo neoplatónico, Proclo (século IV d. C.), passando por Pitágoras e Platão, todos utilizaram essa linguagem simbólica e codificada dos lexaritmos, como demonstraremos mais à frente. Contudo, até há pouco tempo, esta linguagem era desconhecida e as insinuações de H. P. B. sobre tão importante questão ficaram na sua maioria como «voz que clama no deserto». Pensamos que é já tempo de serem reconsideradas e avaliadas de modo sério e axiológico.
No volume II da sua monumental obra A Doutrina Secreta, que trata da síntese da Filosofia, Religião e Ciência antigas através de estudos comparativos, a escritora afirma o seu postulado, apoiando-se nas palavras do místico e cabalista Sir Ralston Skinne quando diz: «quem recebe isto está completamente seguro de que houve uma antiga Linguagem que se perdeu para os tempos modernos, pelo menos até à presente época, mas cujos vestígios, no entanto, existem em abundância... A particularidade desta Linguagem era o facto de poder estar contida dentro de outra, de um modo oculto, e que não podia ser entendida senão com a ajuda de certas instruções especiais. Letras e sinais silábicos possuíam ao mesmo tempo poderes ou significados dos números, das figuras geométricas, das pinturas ou da ideografia e símbolos, cujo objecto desenhado era expressamente auxiliado por parábolas em forma de narrações ou trechos de narrações; e ao mesmo tempo podiam ser expostas separada e independentemente e de vários modos, através de pinturas, em trabalhos em pedra ou em construções em terra...».
Na secção III do mesmo volume, na pág. 46: «Lidos com a ajuda da Cabala encontramos um templo sem rival de verdades ocultas, um poço de belezas profundamente escondidas, sob formas cuja estrutura visível, apesar da sua aparente simetria não pode resistir à crítica da fria razão, nem revelar a sua idade, pois pertence a todas as idades (e compreende todas as Línguas). Há mais sabedoria nos Puranas e na Bíblia (aqui, em sentido extensivo refere-se a todo o texto sagrado), oculta sob as suas fábulas exotéricas, que em toda a ciência e factos exotéricos da literatura do mundo...».
Bastam, por agora, estas citações. Com base nas investigações que se fizeram nos últimos anos e nos nossos próprios estudos no Instituto de Investigações Antropológicas da Associação Internacional «Nova Acrópole», de carácter cultural e filosófico, podemos esboçar certos princípios gerais que regem o sistema Lexarítmico criptográfico dos antigos gregos. Vejamo-lo a seguir com alguns exemplos ilustrativos.

Primeiro Princípio
Os nomes dos Santuários e Centros de Culto ou cidades mais importantes da época contêm no seu lexaritmo as distâncias, na medida grega do estádio própria de então, em relação a certos pontos de referência ou entre eles. Assim, por exemplo, o Santuário de Delos dista 1020 estádios do Templo de Esculápio na ilha de Kos (onde nasceu, segundo se diz, Homero); mas a palavra Kos tem um valor lexarítmico exactamente de 1020, indicando uma relação oculta com o templo de Apolo, em Delos.
A cidade de Smyrna, a jóia da velha Jónia, dista do Oráculo de Delfos, santuário do Deus Apolo (o «sem muitos», o não múltiplo, o Uno, segundo Plutarco) 2198 estádios gregos, o qual contém 7 x 10 vezes o número sagrado p.
Se somarmos os valores numéricos das palavras Smyrna + Oráculo (Manteion) + En (Apolo Uno) + Delfos, teremos o lexaritmo 2198, ou seja, a distância que os separa. A cidade de Smyrna também dista da cidade de Teseu 1620 estádios, que é mil vezes o número de Ouro  f. E realmente sumindo o lexaritmo da frase «A Cidade de Teseu» (e Polis Theseös) teremos o número 1620. que maravilhosa harmonia e beleza se oculta nestas relações gramático-aritméticas!
No monte Ideu da ilha de Creta, um dos mais antigos centros do culto a Zeus, é equidistante das cidades de Kasos e de Kythera em 1051 estádios, número que também se expressa no lexaritmo da soma dos três nomes  Ideu + Kasos + Kythera.  E ainda há mais; desde Knossos, capital da antiga creta minóica, até Atenas, e desta última até à capital do velho reino macedónio, Pella, existem iguais distâncias, ou seja, 1765 estádios. E a soma lexarítmica dos nomes das três cidades dá-nos exactamente esse número:  Knossos + Atenas + Pella = 1765.
Da capital do Chipre, Leukosia, até Knossos e até Bizâncio há 3896 estádios, número de novo que se obtém somando os lexaritmos das palavras correspondentes. Isto implica dois dados a especificar: primeiro, que o antigo Chipre estava compreendido nos cálculos sagrados do sistema Grego Cabalístico; e, segundo, que este conhecimento se tinha mantido ainda na época da construção de Bizâncio. Este Princípio relaciona-se com a Geografia Sagrada.

Segundo Princípio
Os nomes indicam durações e períodos astronómicos, ciclos e outros elementos de carácter celeste ou temporal, em vez de espacial como no princípio anterior. Por exemplo, o ciclo da duração do ano lunar, com o qual, em certa chave simbólica, estava relacionado este Deus, tanto na Grécia como no Egipto, onde foi chamado Thot.
H. P. B., no II volume da referida obra, secção IX, pág. 96, refere:
«...Osíris era de um modo notório o Sol e o rio Nilo, o ano tropical de 365 dias, cujo número é o valor da palavra Neilos e de touro, assim como também era o princípio do Fogo e da força produtora da Vida; enquanto Isis era a Lua, o leito do rio Nilo ou a Mãe Terra...»
Aqui vemos como os gregos se cuidaram muito de manter nas relações lexarítmicas os simbolismos do misticismo egípcio no momento de fazer as transcrições linguísticas do egípcio para o grego. Mas que entende o texto com o conceito «valor da palavra Neilos»? Examinado o lexaritmo da palavra encontraremos exactamente a resposta, porque (N=50) + (E=5) + (I=10) + (L=30) + (O=70) + (S=200) dá-nos 365, ou seja, a duração do ano solar. Mas por que razão o Nilo? Aqui, responde-nos a Simbologia Teológica, segundo a qual no antigo Egipto este rio, como já se refere H. P. B., era um regulador e dador de vida, o fertilizador, que com as suas constantes e regulares inundações relacionava-se com a rota do Sol no Céu e, consequentemente, com o deus Osíris.
Por outro lado, também é muito interessante que o lexaritmo do Nilo tem uma relação diâmetro-circunferência com o lexaritmo da palavra Oceano, de maneira que (Nilo) x (p) = Okeanos = 1146, relação que podemos representar geometricamente como se segue:
Assim, simbolicamente compreende-se que o Oceano constitui a periferia ou circunferência do nosso Sistema Solar, ou seja o Anel «limite», o «círculo inultrapassável» das tradições esotéricas orientais, o Deus que circunscreve todas as coisas dentro do Ovo Cósmico que flutua dentro do seu.
Mas continuemos ainda na possibilidade de profundidade lexarítmica que, neste ponto, nos dá o fragmento de A Doutrina Secreta. O lexaritmo da palavra Fogo (Pyr) é 580 e como vimos no trecho anterior este conceito identifica-se simbolicamente com o Deus Osíris. Somando-o com o lexaritmo de Isis (420) obteremos o número 1000, que equivale ao lexaritmo do Sol (318) multiplicado por p, ou seja, uma relação diâmetro-circunferência como a anterior, que podemos representar geometricamente como indica a presente figura:
Por outro lado e continuando com este ponto um pouco mais, vemos com surpresa que Osíris (590) + Fogo (Pyr, 580) = Hórus (Ouros, 1170).
Da comparação entre os dois esquemas e relações anteriores podemos tirar a conclusão de que tanto o Sol como o rio Nilo funcionam na linguagem simbólica, na chave geométrica, como diâmetros nos seus correspondentes «Círculos» e, por isso, podemos também falar de uma identificação simbólica entre eles, de maneira que o rio Nilo represente o Sol. Existem ainda mais profundas relações e interpretações teológicas que deixaremos de lado por superar as possibilidades deste primeiro contacto com os lexaritmos neste trabalho de divulgação.
Na secção II do mesmo volume, na pág. 33, H. P. B. diz a este respeito:
«318 é o valor gnóstico de Cristo e o número célebre dos circuncidados servidores de Abraão. Quando se considera que 318 é um valor abstracto e universal, que expressa o valor do diâmetro tomando a circunferência como unidade torna-se manifesto o seu uso na composição do calendário civil (ou seja, os 365 dias ‘do Nilo’).
Idênticos signos, números esotéricos e simbólicos encontram-se no Egipto, no Peru, no México, na Ilha de Páscoa, na Índia, na Caldeia e na Ásia Central».(8)
Agora, podemos compreender melhor por que é que se identificava o Chrëstos com o Sol, cujo lexaritmo é 318, como vimos, e justificar a referência ao calendário civil, tanto na sua versão solar de 365 dias, como na outra versão que a autora nos dá, citando as palavras do barão Humbolt, poucas linhas mais acima do citado texto:
«Esta pirâmide (de Papantla) tem 7 andares... Três escadas conduzem ao ponto mais alto, cujos degraus estão decorados com esculturas hieroglíficas e pequenos nichos apresentados com grande simetria. O número destes nichos parece fazer alusão aos 318 signos simples e compostos dos dias do seu calendário civil».
E eis que encontramos o lexaritmo grego da palavra Sol (Hélios) na astronomia dos aztecas do antigo México!
Ainda outro exemplo do conhecimento astrológico nos lexaritmos: a palavra Terra (Gë, de valor 11) multiplicada pela palavra Zénite, de valor 81, dá-nos 891, que é também o lexaritmo da palavra Céu (Ouranos). Em representação simbólica geométrica pode comparar esta relação com a que expressa a área de um rectângulo, cujo lado vertical assume o valor de Zénite e o horizontal o valor Terra.
E o Céu são também «as Estrelas» (oi Asteres), uma vez que ambas as palavras têm exactamente o mesmo valor lexaritmo, ou seja, 891. Simbolicamente, assim, poderíamos pensar que o Zénite «limita», «determina» o Céu e as Estrelas sobre a Terra. Uma frase poética plena, no entanto, de sentido mítico e místico, sob a luz da chave lexarítmica de interpretação.
A duração do ciclo temporal da estrela Sírio, que era chamado Ano Sothiako no Egipto e que os gregos traduziram como Ano Söthërico (do nome da estrela Sírio helenizado, Söthër, que também significa «Salvador»), é de 1460 anos e era considerado um ritmo cíclico de tempo muito esotérico e misterioso, que os sacerdotes da Antiguidade, não somente nos países citados, mas também noutras civilizações, tinham em muito alta consideração e ao qual conferiam uma grande importância astronómica e religiosa. Poderia ser talvez casualidade? Não cremos, mas a distância que separa os dois principais Centro de culto antigo do Deus Apolo, o Deus «Salvador», relacionado por isso simbolicamente com a estrela Sírius, é exactamente de 1460 estádios. Também a soma dos lexaritmos das palavras Salvador (Söthër, de valor 1408) e Esplendor (Aiglë, 52) dá-nos 1460. também obtemos o mesmo número da soma dos valores das palavras Apolo + Sol (Hélios) + Zénite.
A duração do ano lunar, que, como vimos, expressava o lexaritmo de Hermes, dá-nos também a soma das palavras Lua (Selënë, 301) + Esplendor = 353. E Dëlos (312) + Sol (318) + Terra (Gê, 11) = Sol + Lua, que é 630, como também se iguala a relação Delfos (Delfoi, 619) + Terra. Destas e de tantas outras possíveis equações lexarítmicas, conhecendo bem a Simbologia Teológica grega, o estudioso pode extrair e descobrir uma maravilhosa e rica bagagem de interpretações importantes. Nós somos obrigados a deixá-las de lado, por agora, para não correr o risco de que o nosso trabalho se transforme demasiadamente volumoso e técnico, cansando o nosso amável e paciente leitor.
Existem também explicações de tipo planetário e zodiacal que se ocultam em lexaritmos. Por exemplo, o lexaritmo da palavra Poséidon é igual à do Zodíaco de Peixes (ichthys). E a constelação de Carneiro indica a relação com o seu planeta Marte e com a Deusa Atenea, representantes da guerra desenfreada e da prudente, respectivamente. Assim, Carneiro (Krios, 400) = Marte (Arës, 309) + Deusa Atenea (Thea Athënë, 91).
Um exemplo com relações simbólicas ainda mais complexas, de tipo zodiacal, é o que expressa um ensinamento dos Cultos mitraicos, que tanta influência tiveram no mundo romano e, mais tarde, entre os gnósticos cristãos: Touro (Taurus, 1071) + Mundos (Kosmos, 600) = Sol (Hélios, 318) + Mitra (Mithras, 360) + Afrodite (993) = 1671. Recordemos que a principal representação dos Mistérios mitraicos apresenta o Deus Mitra, símbolo do Sol, que com a ajuda da luz do planeta Vénus (Afrodite em grego), mata o Touro (o zodíaco que está sob a influência do planeta Vénus), símbolo do mundo terrenal (o Kosmos).

Terceiro Princípio
Os nomes lexarítmicos indicam, seja no seu próprio lexaritmo seja através de relações aritméticas com outros nomes simbolicamente afins, os números transcendentais p, f e e (dos logaritmos neperianos) que eram considerados mágicos e sagrados na Antiguidade.
A opinião de que estes números tinham sido «inventados» na antiga Grécia foi já desmontada, uma vez que em culturas mais antigas, como as do Egipto, Índia ou China e mesmo na chamada civilização dos megalitos, se verificou a sua utilização. O número 2,72 parece que era calculado pelos gregos e por outros povos com grande aproximação, sendo igual à metade da base de um triângulo equilátero inscrito num círculo com raio p, ou seja, p x (raiz quadrada de 3/2). Este número, responsável simbolicamente das espirais da evolução da vida e dos ritmos espiralados, está contido cem vezes no lexaritmo da palavra Harmonia, que vale 272. Também, multiplicado pela duração do ano solar, 365, dá-nos o lexaritmo da Deusa do Amor: Afrodite = 993 = (365) x (2,72).
Com o número p que determina a relação entre a circunferência e o diâmetro de um círculo, existem bastantes relações. Vejamos alguns exemplos entre os mais simples e, ao mesmo tempo, mais interessantes:
O Céu (ou Ouranos, 961): Via Láctea (Galáxias, 306) = p; ou seja, a «corda» celeste que é a nossa Via Láctea funciona como o diâmetro do nosso «Céu», determinando a sua circunferência ou periferia. Okeanos (1146): Neilos (365) p, relação que já referimos anteriormente.
Céu (Ouranos): (Theos, 284) p, ou seja, que «Deus» seria o diâmetro de um círculo com o qual os antigos representavam o «Universo».
2 X O Céu (ou Ouranos): Zeus (Zeys, 612) p.
2 X A Aurora (Eös): Mar (Thalatta, 641) p.
De tais relações lexarítmicas surgem diversas combinações, as quais se se estudarem e interpretarem à luz da antiga Simbologia teológica podem dar importantes informações e mesmo relâmpagos de «intuição» de ensinamentos ocultos esotéricos.
H. P. B. fala-nos em diversas partes da sua obra acera da grande importância que tem na tradição cabalística do Oriente e do Hebraísmo o valor lexarítmico de determinados nomes divinos que expressam em número p com diferentes combinações. Este ancestral conhecimento esotérico, como vemos, existia também na tradição e linguagem gregas, oculta em lexaritmos, sempre dispostos a iluminar a bruma da Mitologia, ajudando todos aqueles que tentam obter mais luz.
Também está presente o número de Ouro ou f, a secção áurea com o número 0,618... Um processo que podemos apreciar nas seguintes relações «harmónicas» entre os nomes dos Deuses gregos:
Apolo (1061): Ártemis (656) f
Hestia (561): Sol (Hélios, 318) f
Afrodite (993): Zeus (612) f
Hermes (353) : Hera (109) f/2
Também o número 612 (cem vezes a secção áurea, tomando como unidade a secção menor) é o valor lexarítmico da famosa frase sagrada do templo do Oráculo de Apolo em Delfos: «Mëden Agan», ou seja, Nada em Excesso, com o seu belo e profundo sentido áureo.
Este tipo de relações aritméticas, com base nos números sagrados, encontra-se também em grande quantidade nos valores das distâncias entre os Templos, centros culturais e cidades importantes do antigo Espaço helénico (e não só na Grécia), que conformam, como demonstrou o dr. Th. Manias e outros, esquemas geométricos plenos de conteúdo simbólico, como polígonos regulares de centenas de quilómetros de lado, círculos, estrelas e ainda imagens inteligíveis de certas constelações, como se tratasse de um mapa celeste, uma maqueta dos astros sobre a terra. Isto acontece, por exemplo, na região de Elêusis, onde as posições de certos Templos e lugares sagrados formam o esquema da Constelação de virgem, ou na região de Marathon, onde se representa a de Escorpião. E ainda um longo etecétera.

Quarto Princípio
Os nomes, na sua interpretação lexarítmica, indicam relações de identidade e correspondência ou analogia entre conceitos teológicos, míticos, semióticos e simbólicos, de carácter fundamentalmente esotérico e filosófico, que permaneciam ocultos ou simplesmente indeterminados. Abrem a possibilidade para o estabelecimento de «familiaridades» simbólicas com um rico conteúdo hermenêutico. Este quarto princípio dos lexaritmos gregos (que nos arriscaríamos sem medo a generalizar, como dissemos, a outras línguas de carácter «iniciáticomistérico», ainda que a investigação esteja no seu início) é aquele que nos dá um campo ilimitado, em profundidade e em extensão, na investigação de qualquer tipo de compreensão interpretativa.
No volume II de A Doutrina Secreta, H. P. B. refere-se ao Caos, ao Espírito e à Criação de todas as coisas e diz:
«Sanchoniathon, na sua Cosmogonia, declara que quando o Vento (Espírito) se apaixonou dos seus próprios princípios (Caos), teve lugar uma união íntima, cuja conexão foi denominada Photos e desta surgiu a semente de tudo..
O estudo dos lexaritmos traz-nos importantes informações que permitem ao estudioso da antiga sabedoria interpretar os símbolos e aprender uma vez mais. Assim, verdadeiramente, Eros (1105) + Espírito (Pneyma, 576) = Chaos + Desejo (Photos, 449) + Todo (Pan) = o vinho do todo (Oinos Pantöm, 1681). Temos também de acrescentar que a palavra todo, em grego (Pan) tem o mesmo valor lexarítmico que a palavra Unidade (Monas), ou seja, 131.
O Todo é Uno e o Uno é Todo, o velho aforismo esotérico, demonstrado nos lexaritmos. Que bela harmonia e ordem dentro do aparente Caos! Também o lexaritmo da palavra Espírito é o mesmo da palavra Águia: Pneyma = Aëtos = 576. eis uma razão mais do uso da Águia como símbolo do Espírito em tantas civilizações. E também compreendemos, devido à equação anterior, muito melhor a razão pela qual o grande poeta Homero na Ilíada fala do «Mar de Vinho» que contém todas as coisas. Não era uma simples e bonita metáfora poética... indicava algo mais... e há muito mais que nos escapa.
Continuando com as relações, vemos que o Todo (Pan) + as sete vogais (somados os valores lexarítmicos de cada uma das 7 vogais do alfabeto grego dá-nos o valor 1294) + Uno (Eneas, 256) = 1681, ou seja, o valor lexarítmico da equação que vimos anteriormente. Isso implica que o conjunto Uno das 7 vogais constitui o «Mar de Vinho de todas as coisas». No volume I de A Doutrina Secreta, Blavatsky diz-nos algo que tem uma relação com tudo isto:
«... a Serpente gnóstica, com as 7 vogais em cima da cabeça, era o emblema das 7 Hierarquias dos Sete Criadores Planetários. Daí dimana igualmente a ideia da Serpente hindu «Shesha» ou «Ananda», o Infinito, um dos nomes de Vishnu, do qual esta Serpente é o Vahana ou veículo sobre as Águas Primordiais».(11)
As 7 vogais do alfabeto grego tinham um papel muito importante na «Cabala» grega, assim como no cerimonial mágico dos Mistérios Mitraicos e dos gnósticos cristãos dos primeiros séculos, como veremos já a seguir. A este respeito, H. P. B., no segundo volume de A Doutrina Secreta, diz que o esquema do filósofo gnóstico Valentim, chamado «Cabala Grega», baseado na combinação das letras gregas com os números, pode servir de modelo. E na secção 13 do mesmo volume, pág. 147, escreve: «Valentim estende-se sobre o poder dos Sete grandes, que foram chamados a produzir este Universo depois de Ar(r)hetos, ou o Inefável, cujo nome é composto de 7 letras, representou a primeira Hebdómada. Este nome (Ar(r)hetos) indica a natureza septenária do Uno, o Logos. A Deusa Rhea – diz Proclo – «é uma Mónada, Díada e Héptada», compreendendo em si mesma todos os Titânidas que são sete»(12).
Aplicando a chave lexarítmica a questão esclarece-se bastante uma vez que Arrëtos (tem 7 letras e valor 706) + Terra (Gê) = Héptada (Haptas, 586) + Unidade (Monas, 131). Também Arrëtos = Águas (Ydata). E o lexaritmo da frase de Proclo «a Deusa Rhea (ë Thea Rea) é 129, ou seja, I + (2 elevado a 7), onde estão a Mónada, a Díada e a Héptada juntas, o que é o mesmo, a Mónada mais sete vezes a díada.
Seguindo com os exemplos deste 4º princípio, no IV volume, diz, referindo-se a Enoch e aos Avatares em geral:
«Na Grécia foi chamado Orfeu, mudando assim o nome em cada nação. Estando o número 7 relacionado com cada um destes Iniciados primitivos, assim como o número 365 dos dias do ano, astronomicamente, isto identifica a missão, o carácter e o cargo sagrado destes homens, ainda que certamente não das suas personalidades».
Com efeito, o lexaritmo do nome do Deus Abraxas é 365 e o de Mithra é 360 (os graus do círculo). No caso de Orfeu, por exemplo, não aparece claro de imediato, pois o seu lexaritmo é 1275 (Orfeus), mas a sua esposa mítica Eurídice tem valor numérico 563, que é o anagrama ou inversão de 365. Em relação a este facto do anagrama de letras ou de números falaremos no seguinte ponto, pois relaciona-se com o 5º princípio dos lexaritmos.
A própria H. P. B. refere o seguinte na secção 8 do mesmo volume:
«Os números do nome de «Moisés» são os do «eu sou o que sou»; de modo que os nomes de Moisés e de Jehováh estão em harmonia numérica. A palavra Moisés... e a soma dos valores das suas letras é 345; Jehováh (o Génio por excelência do ano lunar) toma o valor 543, ou seja, o reverso de 345».
E o ano lunar tem 354 dias, expressando um novo reverso ou anagrama do lexaritmo hebraico de Jehováh- Moisés. H. P. B. explica depois que por esta razão esotérica, no terceiro capítulo do xodo, Moisés vê somente as «costas» de Jehováh e no seu «rosto» de frente. No mito da descida de Orfeu ao Hades para recuperar a sua amada Eurídice e trazê-la do mundo dos mortos para a vida, fracassa por fim porque «volta as costas» para a ver atrás dele e verificar que o seguia, indo contra a ordem de Perséfone e de Plutão. Eis novamente um caso parecido ao de Moisés-Jehováh que Blavatsky refere e onde a chave lexarítmica em grego nos lança mais luz na compreensão da Mitologia e dos seus véus.
Correspondências como as seguintes são igualmente esclarecedoras para a compreensão hermenêutica e interpretação da Mitologia grega antiga:
O homem (Anthropos) é de igual lexaritmo ao de natureza (Fisis), ou seja, o valor 1310, que é décuplo do valor das palavras Unidade (Monas ou Mónada) e Todo (Pan), indicando o paralelismo entre a evolução ontogenética (do homem) e a filogenética (da Natureza), do qual nos fala a Filosofia Esotérica desde há milénios e a Biologia actual.
Sol (Hélios) + Lua (Selënë) = Delfos (619), relacionando com o famoso Oráculo os dois Gémeos Divinos de Latona.
Zeus + Hera = Musas (Mousai, 721).
Mëtis + Zeus + Aithër = Latona (Lëtö, 1138) + Espaço curvo (Koilon, 250). Deixamos as possíveis interpretações para os amantes da Mitologia e Simbologia teológica.
As possibilidades de investigação são tão vastas que deveremos limitar-nos, por agora neste trabalho ao que já foi exposto, abrindo horizontes para futuros estudos.
Para terminar com os exemplos relativos a este 4º princípio de uso e aplicação dos lexaritmos, iremos referir-nos às secções 4 e 6 do volume II de A Doutrina Secreta, relacionadas respectivamente com os temas de «Caos, Theos e Kosmos» e ao «Ovo do Mundo».
Tudo quanto se disse na primeira secção poderíamos expressá-lo com grande síntese simbólica na seguinte equação lexarítmica que indica magistralmente quanta sabedoria se oculta nas palavras da linguagem grega. H. P. B. identifica nessa secção as palavras e os conceitos de Theos com Centro, Chaos com Espaço e Kosmos com Circunferência ou periferia. Na chave lexarítmica obtemos reflectida uma verdadeiramente maravilhosa equação:
(Theos + Centro) + (Chaos + Espaço) + (Kosmos + Circunferência) = Logos = 3730, ou seja, a Deidade Triádica Oculta (os 3 parêntesis) que se expressam de modo semelhante através do Círculo e do Triângulo, como veremos a seguir. O leitor deve reter bem esta equação porque voltaremos a ela no seguinte ponto, com o 5º princípio dos lexaritmos, no que se refere à sua reversibilidade ou anagrama, para aprofundar um pouco mais nela.
Na secção 6, «O Ovo do Mundo», Blavatsky mostra-nos também importantes revelações relações de conceitos que se encontram em comum em todas as cosmogonias das antigas Civilizações. A aplicação da chave lexarítmica nestas, esclarece e revela, uma vez mais, os sentidos ocultos e obscuros simbolismos.
Assim, a medula-eixo desta secção expressa-se nas seguintes correlações ou correspondências: Ovo (Öon, 920) + Mundo (Kosmos, 600) = Serpente (Ofis, 780) + Círculo (Kyklon, 740) = 1520 E Ovo + Serpente = Circulação (Kyklësis, 888) + Esfera (Sfaira, 812) = 1700.
Uma clara conclusão interpretativa é que a Serpente em Círculo (a Ouroboros, serpente que morde o rabo) incuba o Ovo do Mundo ou do Kosmos, assim como a Serpente em volta do Ovo do Mundo (o símbolo egípcio e gnóstico de Kneph e de Chnouphis) faz circular e girar a Esfera do Mundo em forma espiralada.
Avançando um pouco ainda nos simbolismos da Cosmogonia com base nos lexaritmos, desta vez aplicado em O Timeu de Platão, encontramos: O Uno (Taüton, 1121) = O Outro (Theteron, 535) + Héptada (Eptas, 586), ou seja, que segundo Platão, como indicam os lexaritmos, o Círculo do Uno (Taüton) é denominada «Cadeia do Mundo» na terminologia esotérica cosmológica que refere H. P. B. e consta de 7 círculos do Outro (Theteron), ou seja, os 7 globos ou Planetas que mencionava H. P. B. e que também deviam expressar-se nas Escolas Platónicas e Pitagóricas, já que a maior parte dos conhecimentos de O Timeu, Platão herdou-os da velha sabedoria de Pitágoras. Novas luz, pois, assumem os fragmentos «obscuros» de Platão.
Mas, além disso, a Héptada + Círculo (Kyklos, 740) = Matéria (Ylë, 438) + Circulação (Kyklësis, 888) e também que a Héptada + Roda (Trochos) = Tetraktys (Tettraktys, 1926).  Assim, a Tetraktys pitagórica pode identificar-se simbolicamente com as 7 Rodas Cósmicas ou Círculos que se formam pela circulação e turbulência da Matéria. Em relação a esta interpretação que baseamos em lexaritmos, também H. P. B. faz uma insinuação no volume IV de A Doutrina Secreta, quando diz:
«Pitágoras pergunta: ‘Como contais vós?’. A resposta é: ‘Um, Dois, Três, Quatro’. Então, Pitágoras diz: ‘Vedes? No que vós concebeis Quatro há dez, um Triângulo perfeito e o nosso Juramento (a tetrakktys, o Quatro-Sete conjuntamente)’. Segundo a referência de Luciano em ‘Auction’».
Poderíamos continuar com estas interpretações simbólicas e correlações filosóficas, uma vez que a extensão e profundidade que põe a descoberto a aplicação da chave lexarítmica dos textos antigos metafísicos e sagrados é enorme. E serão necessários talvez muitos anos neste tipo de investigações até poder chegar à reivindicação e reestruturação total da Sabedoria dos antepassados. Neste sector, a ajuda de sistemas de computação electrónicos é inestimável.

Quinto Princípio
Os nomes, nos seus lexaritmos, podem ler-se e combinar-se, relacionando-se de maneira inversa ou «anagramática», ou seja, contendo os mesmos números mas em posições diferentes ainda que expressando igualmente relações de familiaridade conceptual e simbólica, identificações e correspondências sob diversas aritméticas. Este princípio dos nomes lexarítmicos, o último que referiremos aqui, constitui uma variação e extensão do anterior, tendo-se acrescentado o elemento de grande importância simbólica, como veremos, do anagramatismo das cifras, que poderíamos chamar o «efeito espelho».
Já no ponto anterior tínhamos referido um exemplo deste efeito no caso de Orfeu e Eurídice, com a justificação da referência de H. P. B. à reversão lexarítmica dos nomes de Moisés e de Jehová. Contudo, ainda se pode dizer muito mais e pôr a descoberto no futuro um grande número de verdades veladas. Neste caso, a utilização de computadores será de preciosa ajuda para recompor a velha sabedoria lexarítmica e cabalística... com a única diferença de que os antigos não necessitariam deles para fundamentar e edificar uma tão plena de beleza e harmonia estrutural linguístico-matemática.
Por exemplo, o anagramatismo do lexaritmo da palavra Luz, Faos (0771) é 1770, ou seja, pelo «efeito espelho» do Espaço obscuro primordial, uma vez que 1770 é o valor lexarítmico da palavra Espaço (Chöros). A Luz também é o Princípio, porque Faos = Princípio (Archë) = 771.
A palavra Roda (Trochos) tem valor 1340, que num anagrama nos dá 1034, que é o lexaritmo da palavra Dodecaedro (dödekaedron). Este poliedro regular é, segundo a filosofia pitagórica e platónica, o esquema esotérico básico em que se fundamentem os alicerces da Roda dos Mundos.
O anagrama do lexaritmo da palavra AEter (Aithër, 128) dá-nos a palavra Esfera (Sfaira, 812). Da palavra Circunferência (Perifereia, 816) obtemos uma variante 681, que é o valor da palavra Essência (Ousia), efeito de reversão que nos sugere que o conceito de Centro é identificável com a Essência. Também o Dragão (Drak) com um valor 975, expressa ao Deus dos órficos, uma vez que no anagrama temos 795, que é o lexaritmo de Uno (En, 55) + Círculo (Kyklos, 740). Na cosmologia órfica, que em parte passou mais tarde também para a dos gnósticos do cristianismo esotérico e para os ofitas, o Deus Fanes simboliza-se como um Dragão ou Serpente que forma um círculo, o Círculo de Luz. Por isso, também Uno (En) + Esfera + Serpente (Ofis) = Circulação (Kyklësis) + Fanës. Profundos ensinamentos encerram as palavras!
No volume I de A Doutrina Secreta, H. P. B. fala-nos do anagrama dos números e letras quando diz:
«Podemos observar que o senhor Ralston Skinner, o autor de Source of Measures, descobre a palavra hebraica Alhim nos mesmos números (ou seja, 31, 415, de p deduzindo, como já dissemos, os zeros, e utilizando a transposição, ou seja, escrevendo 13.514... ou seja, com anagrama, como o explica».(16)
Este sistema de anagramas, com diferentes combinações constitui um ramo especial da Cabala (e não só da hebraica) que se chama «Temura» em hebraico. As suas aplicações na «Cabala Grega» abrem perspectivas extraordinárias que conduzem a importantíssimas correlações simbólicas com a Aritmosofia, outro ramo importante das Ciências Ocultas tradicionais.
A causa do anagrama dos lexaritmos consiste na necessidade de ocultar determinados conceitos secretos, que se revelariam somente no reduzido círculo de Iniciados na Gnose ou Conhecimento. Seria, assim, diríamos, um sistema de auto-protecção e segurança interna dos conceitos sagrados perante cada possível profanação ou uso por parte de indivíduos inexperientes ou não preparados, podendo levar a abusos e mau uso por ignorância ou egoísmo.
Na sua obra Isis Sem Véu, Blavatsky diz:
«O nome de (Iaö) assinala o ponto onde se presume que reside o Desconhecido, e em volta deste nome lê-se a inscrição ‘o Eterno Sol Abrasax’ ».
Blavatsky refere-se a segredos dos gnósticos e dos ofitas. Aplicando a chave lexarítmica, observamos que: Semes (Eterno, 450) + Eilam (Sol, 86) = 536,  que é um anagrama do lexaritmo Abrasax, 365, ou duração do ano solar. E ainda mais: Semes + Eilam + Abrasax = 901.  Mas o lexaritmo do nome de Iaö é 811; no entanto, se lhe acrescentarmos o número 091 (um anagrama do anterior) teremos o anagrama da equação anterior, ou seja, 901. E 9 + 0 + 1 = 10 = 1 + 0 = 1 em soma pitagórica, ou seja, temos o símbolo do Círculo, do Centro, do Diâmetro e da Circunferência, conceitos que analisaremos lexaritmicamente um pouco mais adiante.
Na teologia do filósofo gnóstico Valentim, o Abismo (Bythos) e o Silêncio (Sigë) representam, diz H.P.B., no seu volume IV, a Díada Primordial.
Os pitagóricos sentiam certa repugnância pela Díada ... e pelos ovos, como símbolo dela. Lexaritmicamente, isto fica expresso maravilhosamete na equação Abismo (Bythos, 681) + Silêncio (Sigë, 221) = 902, número que é um anagrama da palavra Ovo (Öon, 920). Já anteriormente vimos a relação entre Ovo do Mundo e a Serpente. E o lexaritmo da palavra Apofis, 861, é um anagrama do lexaritmo da palavra Bythos (abismo). Na página 154 da mesma secção, nota 33, Blavatsky diz-nos que a Serpente Apofis (Ofis Apophis) é o inimigo de Rá, a Luz, ou seja, é a Sombra da Essência, cujo lexaritmo é 681; a Essência (Ousia, 618) é o inimigo de Apophis (Apofis, 861), ou seja, o seu reverso, o seu anagrama.
Também, Tétrada (Tettras, 1206) = Díada (Düas, 604) + abismo (Bythos) + Silêncio (Sigë), o que nos explica a razão dos gnósticos, herdeiros da antiga Tradição grega, que afirmavam, como diz H. P. B., que a sua Ciência, a Gnose, estava baseada no Quadro, do qual os ângulos representam respectivamente o Silêncio (Sigë), o Abismo (Bythos) ou Oceano, a Mente (Nous) e a Verdade (Alëtheia). E o lexaritmo desta última é 64 (ou 064) que é um anagrama do lexaritmo da palavra Díada, que tínhamos visto na equação anterior.
Recordemos, agora, aquela equação que nos relacionava o Centro, O Espaço e a Circunferência com os conceitos de Theos, Caos e Cosmos respectivamente, as facetas da Divindade, cuja soma nos dava a Deidade Oculta, o Logos, multiplicado por 10, pela Década (Tetraktys) de que nos falava H. P. B. na secção 4 e 5 do volume II da Doutrina Secreta.
Outras facetas da Deidade Oculta ou Logos «Decádico» são também o Espírito (Pneuma), a Matéria (Ylë) e o Sol (Hélios), como diz H. P. B. «Segundo Platão, a Deidade mais elevada foi a que construiu o Universo na forma geométrica do Dodecaedro; e o seu «Primogénito» nasceu do Caos e da Luz Primordial, o Sol Central».
Estas outras facetas da Divindade relacionam-se, no entanto, de novo entre si lexaritmicamente e esclarecem-nos ainda mais os conceitos filosóficos, uma vez que: [Centro + Espírito (Pneuma) ] + [Espaço + Matéria] + [Circunferência + Sol (Hélios)] = 3.307, que é um lexaritmo em anagrama do número 2.730 que, como vimos mais acima, era o lexaritmo do Logos pela Década (Logos x 10). O papel triádico preponderante do Logos Oculto (que compreende a Década) aparece de novo claramente. Na chave aritmosófica diríamos que este número compreende a Década, a Heptada e as duas Tríades, ou seja o número mágico da Criação Demiúrgica em todas as cosmogonias (10, 7 e os dois números 3 de 3.307).
Mas, além disso, Centro + Espaço + Circunferência = Triângulo Equilátero (Is.pleüron Trigönon) cujo valor é de 3.730, ou seja, o novo valor lexarítmico da Deidade Oculta, o Logos pela Década. Isto expressa-nos, em Geometria simbólica, a triangulação do Círculo divino, de modo que a superfície do Círculo com o Centro em Theos e circunferência no Kosmos, seja equivalente à de um triângulo equilátero, figura sagrada dos pitagóricos. O mistério do Deus Trino dentro do Círculo do Uno Todo (Monas tem igual valor lexarítmico que Pan (Todo) como já vimos).
Geometricamente podemos representar estes conceitos simbólicos e as suas muito esclarecedoras inter-relações com sentidos metafísicos da seguinte maneira, talvez a mais ilustrativa:
Segundo Blavatsky, o Triângulo celeste é o Uno ou Mónada Todo e é a Deidade que surge quando o Círculo Infinito do Absoluto adquire Centro, Espaço e Circunferência e se manifesta de maneira trina. Constitui uma síntese do Ponto central com esse Triângulo que emana deste, conformando, assim, a Tétrada Oculta, a Cruz Cósmica do Espaço. A este respeito, H. P. B., no volume II de D. S., pág. 60, refere o seguinte:
«Markos, os chefe dos markosianos, que floresceu em meados do segundo século e que ensinava que a Deidade tinha de ser considerada sob o símbolo de quatro sílabas, deu mais das verdades esotéricas que nenhum outro gnóstico. Mas nem mesmo assim foi bem compreendido. Pois só na superfície ou letra morta da sua «Revelação» é onde aparece que Deus é um Quaternário, a saber: ‘O inefável, o Silêncio, o Pai e a Verdade’; o que é completamente errado e só divulga mais um enigma esotérico. Este ensinamento de Markos foi a dos primeiros cabalistas e o nosso».

Esta trajectória da investigação conduz-nos ainda a importantes revelações dos conceitos metafísicos ocultos, que tão abundantemente refere H. P. B. nos seus diversos escritos, resgatados dos velhos textos filosóficos, Cosmogonias e Mitologias. Não devemos, no entanto, abusar da paciência do leitor que chegou até aqui.
Talvez no futuro se possa publicar, para os interessados, os resultados de todas as nossas investigações, que são o produto da intercolaboração de investigadores da Associação Cultural «Nova Acrópole» neste campo, num volume mais especializado e detalhado. A interpretação lexarítmica tem ainda muito para dar no labor de decifrar da Teologia e Metafísica simbólicas, da cosmologia e da Mitologia dos antigos, lançando nova luz em muitos conceitos até agora obscuros.
Assim, apesar de serem intermináveis as possibilidades de investigação no campo dos lexaritmos aplicados aos antigos textos, que H. P. B. sou tão audaz e admiravelmente desenterrar, comparar e harmonizar, devemos, no entanto, dar por terminado este trabalho de exposição, talvez denso, mas pensamos que produtivo e cheio de novas perspectivas.
Hoje, já próximo do fim do segundo milénio, e às portas do terceiro, a grandeza da velha Sabedoria começa-se a reabilitar cientificamente, seguindo as marcas da grande vanguardista e pioneira que foi H. P. Blavatsky há cem anos. Depois das investigações de Jean Richer, Theofilo Manias e de tantos outros, sabemos já que houve uma Geografia Sagrada na antiga Grécia, com distâncias que expressam conteúdos simbólicos e teológicos, calculados com exactidão matemática, com perfeitas orientações, com diversos sentidos mágico-simbólicos... que houve uma Língua Secreta, hoje chamada «lexarítmica», que relacionava cabalisticamente números e letras em combinações matemáticas (soma, multiplicação, divisão, potência, etc.), ocultando conceitos sagrados ou filosóficos... que tinham conseguido reflectir na Terra, nos seus Templos e nos seus ensinamentos e mitos, os passos dos Deuses Estelares no Céu.
É nosso desejo ter colaborado no despertar de uma nova chama daquela velha sabedoria milenar que aproxima o ser humano à Luz Divina do Conhecimento, da Harmonia e da Beleza, ainda que se expresse em Números, Formas geométricas e Letras.

«Deus geometriza».
Platão

Giorgios A. Planas